As frases “dormir é um tempo perdido”, “não gosto de dormir porque é um tempo que não produzo”, “fico bem com poucas horas de sono e assim tenho mais horas para trabalhar”. São frases comuns no nosso dia a dia. Muitos jovens atualmente acreditam que dormir é pura perda de tempo e acabam minimizando o tempo que gastam na cama. Ocupam as horas do dia com trabalho excessivo, exercícios físicos, lazer, redes sociais e deixam pouco tempo para dormir.
Se voltarmos no tempo e observarmos os nossos avós ou as pessoas mais antigas vemos que as distrações eram muito menores e as rotinas como horários de acordar, dormir e refeições eram mais bem estabelecidas. Lembro que na casa dos meus avós o almoço era servido pontualmente as 12h e eles iam para cama por volta das 21:30h. O fato é que, o sono não é apenas um tempo bem gasto em termos de saúde, mas também em termo de produtividade. Muitos estudos já mostraram que o sono curto, ou seja, a privação de sono, está associado a um índice de massa corporal mais alto, risco maior de desenvolver obesidade.
A privação de sono pode levar ao aumento da ingestão calórica, bem como alterações nos hormônios metabólicos como leptina e grelina (“hormônio da saciedade e da fome” respectivamente), testosterona, cortisol, entre outros biomarcadores, aumentando o risco metabólico. O aumento do risco cardiovascular também já foi demonstrado nesta população, assim como aumento da chance de diabetes e alterações da saúde mental, função cognitiva e comportamental. A lista de danos a saúde é bastante elevada, mas não fica resumida só a estes aspectos. Pessoas que dormem menos que 6h por noite e são privadas de sono acabam adoecendo mais facilmente e faltando mais vezes ao trabalho. Havendo um aumento de 62% na probabilidade de acidentes de trabalho por decréscimo no estado de alerta e atraso no tempo de reação. Literalmente, gramas de sono geram quilos de negócios.
A má qualidade do sono está associada a um gasto adicional por pessoa de aproximadamente $ 3.400 a $ 5.200 em cuidados de saúde. As perdas relacionadas à exaustão foram estimadas em $ 1967 por funcionário anualmente para aqueles que dormiam menos horas por noite. As grandes empresas já compreenderam o valor monetário do sono e estabeleceram em suas rotinas e ambiente de trabalho, medidas de higiene do sono, programas de orientação sobre o sono, flexibilidade nos horários de entrada no trabalho, salas de cochilo, entre outras medidas. Cochilos de aproximadamente 30 minutos durante o horário de trabalho ajudaram a aumentar o desempenho nas tarefas e o estado de alerta. Sem contar que funcionários que dormem bem e a quantidade de horas necessárias, são funcionários mais felizes e como mais gestão emocional. O contrario também é verdadeiro, os que dormem pouco acabam brigando mais no trabalho e são mais instáveis emocionalmente, podendo chegar a agressões físicas e verbais. São empregados menos criativos também.
Enfim, se fomos criados para dormir certamente o sono de boa qualidade e com horas suficientes tem um papel de regular muitas funções, atualizar o nosso “drive” e nos deixar prontos para as atividades do dia seguinte. Portanto, precisamos valorizar o nosso tempo de sono e evitar as possíveis distrações e desenvolver hábitos de sono saudáveis.
Referências
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