Síndrome do Aumento da Resistência da Via Superior

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A síndrome do aumento da resistência da via aérea superior (SRVAS) é uma doença incluída no espectro dos distúrbios respiratórios do sono e foi descrita pela primeira vez por Guilleminault em 1993. É caracterizada pela presença do RERA (Respiratory Effort-Related Arousals ou despertares relacionados ao aumento do esforço respiratório), que é o evento respiratório onde observamos o aumento da resistência da via aérea superior à passagem do fluxo aéreo, seguido de despertar. Estes indivíduos podem relatar fadiga crônica, dificuldades com concentração e desempenho, sono fragmentado e não reparador, queixas de sono como insônia de início e manutenção, sem sintomas óbvios de apneia obstrutiva do sono. O sinal mais comumente observado na SRVAS é o ronco (Arnold, 2019).

Fatores que poderiam levar ao aumento da resistência na via aérea superior (VAS) poderiam estar relacionados com a diminuição do controle neuronal dos tecidos moles em VAS, desbalanço entre estruturas ósseas e tecidos moles na cavidade oral, palato mole alongado, entre outros (Arnold, 2019). Alguns autores sugeriram que pacientes com SRVAS têm pequenas dificuldades respiratórias, como colapso de válvula nasal, hipertrofia de cornetos inferiores e desvios de septo, e que isso também resultaria no aumento da resistência à passagem do fluxo de ar durante o sono (Oliveira, 2016).

Atualmente, no exame de polissonografia (PSG), a marcação do RERA é opcional. Se houver marcação deste evento, esta deverá seguir os seguintes pontos:

  • Sequência de respirações (pelo período igual ou maior do que 10 segundos), onde pode ser verificado o aumento do esforço respiratório ou o achatamento da curva de fluxo inspiratório, resultando em um evento de despertar e sem dessaturação de oxigênio (Figura 1).
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Figura 1. Época de polissonografia apresentando um evento de RERA. Despertar (A) que foi antecedido por evento de achatamento da curva de fluxo inspiratório (B), sem queda da saturação de oxigênio (C). EEG = eletroencefalograma, RERA = respiratory effort-related arousal (aumento da resistência da via aérea superior seguido de despertar). Fonte: modificado de Ogna, Adam et al., 2018.

O estudo de Ogna, Adam et al. (2018)  identificou a prevalência de um índice de RERA acima de 5 eventos por hora de sono em 3,8% de uma amostra populacional geral (2.162 participantes, sendo 51,2% mulheres, 58,5 ± 11,0 anos de idade e índice de massa corpórea de 25,6 ± 4,2 kg/m2), sendo que nesta amostra o RERA foi o evento respiratório predominante em apenas 1% da população estudada. Este estudo também identificou que a maioria dos participantes era assintomática (apenas conseguiram relacionar um participante onde o aumento da sonolência diurna estava diretamente relacionado com o RERA). O grupo RERA não apresentou aumento da prevalência de hipertensão, diabetes ou síndrome metabólica, em relação ao grupo controle.

É importante lembrar que o conhecimento que temos sobre a síndrome do aumento da resistência das vias aéreas superiores é baseado principalmente em descrições de séries de casos de centros de sono, incluindo principalmente populações sintomáticas selecionadas, onde a prevalência deste distúrbio do sono está em torno de 8,4% e muitas vezes associada com o excesso sonolência diurna. O estudo de Ogna, Adam et al. (2018) mostrou uma taxa de prevalência extremamente baixa do RERA na população geral, sugerindo que essa condição talvez seja uma causa independente rara de sonolência diurna.

Uma outra questão importante que pode ter levado à baixa prevalência de RERA naquele estudo é a evolução das técnicas de registro e classificação de eventos. Nos estudos anteriores sobre RERA, os despertares não eram utilizados para classificação de hipopneias. E, apesar do uso de cânulas de pressão nasal ter aumentado a sensibilidade do sensor de fluxo, tornando os episódios de limitações de fluxo inspiratório mais facilmente detectáveis, parece que os recentes critérios da AASM para a classificação de distúrbios respiratórios resultaram com que a maioria dos eventos de RERA sejam agora classificados como hipopneias.

Pesquisas relataram que  pacientes com RERA apresentando sonolência excessiva diurna e a redução do desempenho psicomotor apresentaram melhora dos sintomas diurnos após o tratamento (Arnold, 2019; Kshirsagar, 2021). E, apesar de pesquisas também terem relacionado o RERA no desenvolvimento de comorbidades cardiovasculares, os resultados carecem de mais investigação (até o momento  nenhuma associação independente foi encontrada, sugerindo que a presença de RERA não tem associação significativa com a sonolência diurna e nem com a prevalência de comorbidades cardiovasculares ou metabólicas em nossa população) (Ogna, 2018) .

Assim, temos que a relevância clínica do RERA ainda é tema de muita discussão. Mas não podemos excluir que indivíduos que apresentam RERA e aumento da sonolência diurna possam se beneficiar de tratamento. E com relação ao tratamento da Síndrome do Aumento da Resistência da Via Aérea Superior iremos falar sobre isso em um outro post!

Fontes: Ogna, Adam et al. “Prevalence and Clinical Significance of Respiratory Effort-Related Arousals in the General Population.” Journal of clinical sleep medicine : JCSM : official publication of the American Academy of Sleep Medicine vol. 14,8 1339-1345. 15 Aug. 2018, doi:10.5664/jcsm.7268

Kshirsagar RS, Harless L, Liang J, Durr M. The efficacy of surgery for upper airway resistance syndrome: A systematic review, meta-analysis and case series. Am J Otolaryngol. 2021 Mar 29;42(5):103011. doi: 10.1016/j.amjoto.2021.103011. Epub ahead of print. PMID: 33831820.

Arnold WC, Guilleminault C. Upper airway resistance syndrome 2018: non-hypoxic sleep-disordered breathing. Expert Rev Respir Med. 2019 Apr;13(4):317-326. doi: 10.1080/17476348.2019.1575731. Epub 2019 Feb 6. PMID: 30689957.

Oliveira, PWB de et al. Orofacial-cervical alterations in individuals with upper airway resistance syndrome. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. Volume 82, Issue 4, 2016, Pages 377-384. ISSN 1808-8694. doi.org/10.1016/j.bjorl.2015.05.015.

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